reportagem
VAGOS OPEN AIR
1º DIA 5 de Agosto de 2011
Lagoa de Calvão
Line-up: REVOLUTION WITHIN, CRUSHING SUN, ESSENCE, ANATHEMA, TIAMAT, OPETH
Fotos: Sandra Manuel
Texto: Renata LinoPelo terceiro ano consecutivo, no primeiro fim-de-semana de Agosto, as atenções da comunidade metaleira nacional focaram-se na Lagoa de Calvão.
Mesmo antes de passar as portas, notámos a primeira modificação: os bilhetes, convites e pulseiras eram desta vez adquiridos num contentor com 3
guichets, em vez da bilheteira única do recinto, o que evitou as longas filas que se registaram nos anos anteriores.
Já lá dentro, por outro lado, a mudança na disposição das barracas não agradou tanto à generalidade das pessoas. É certo que o número/variedade de “comes & bebes” voltou a aumentar, mas reduziram o espaço ao
merchandise: em vez da grande tenda com as várias bancas lá dentro, cada banca tinha agora uma tendinha própria com muito pouco espaço a dividi-las, dificultando a movimentação entre elas.
Outra novidade foi uma pequena exposição de fotografia, na tenda destinada às sessões de autógrafos, com momentos capturados nas edições anteriores do festival pelas mãos de
André Henriques,
António P. Nascimento,
Gonçalo Delgado e
Vânia Santos. Esperamos que para o ano se repita, com mais trabalhos e mais autores.
Às cinco horas os
REVOLUTION WITHIN tiveram a honra – usando as palavras do vocalista
Raça – de inaugurar o 3º VOA. Apesar do calor e de não conhecerem a música de abertura, pois
“Only The Strongest Will Survive” é um tema novo, o público mexeu-se bastante com o
thrash metal da banda de Santa Maria da Feira.
“Silence”, para a qual foi gravado um vídeo que já ultrapassou as 8.800 exibições no YouTube, já era mais familiar e o entusiasmo aumentou.
Em
“Surrounded By Evil”, que está a caminho de tornar-se um clássico, era notável o orgulho na expressão de
Raça ao ouvir o
“... by evil” gritado por aquela gente toda.
Depois de apresentarem mais um tema novinho em folha,
“Without Recognition”, sobrava tempo apenas para mais uma.
Raça disse que já há bastante tempo que desejavam fazer uma
wall of death nos seus concertos, mas ou não havia gente suficiente, ou o local era apertado... Vagos era o sítio ideal para o efeito e com os primeiros acordes de
“Stand Tall”, os
moshers lá se engalfinharam uns nos outros.
http://www.myspace.com/revolutionwithinptSeguiram-se os vilacondenses
CRUSHING SUN, que abriram com o mesmo tema que abre o álbum de estreia
“TAO”:
“Rain”.
Algo que caracteriza muito esta banda é o dinamismo e a expressividade com que o vocalista
Bruno Silva interpreta os temas, encorajando o público a seguir o exemplo. Sem querer desmoralizar as bandas portuguesas que actuaram nas edições anteriores, creio que este ano houve um maior apoio “ao que é nosso”.
Durante cerca de 40 minutos assistimos a um desfile de temas de
death/sludge de qualidade, focado no já referido álbum. Mas foram buscar ao
split com os
E.A.K.,
“Bipolar” (2008), a música
“Longoria” para terminar a actuação.
http://www.myspace.com/crushingsunA primeira banda internacional do Vagos Open Air 2011 foi uma das estreias que o cartaz nos reservava. ¾ de dinamarqueses, ¼ de noruegueses (o baixista
Benjamin Atlas, que de momento é apenas um músico de sessão para os concertos), os
ESSENCE provaram que o termo “fora de moda” não se aplica a estilos musicais. Ainda no princípio da casa dos 20, deram um excelente concerto de
thrash metal, daquele
old school característico de uma época em que ainda não tinham nascido.
Todos pareciam bem dispostos e bastante contentes por estar ali, com o vocalista
Lasse Skov sempre a sorrir e a falar com o público entre as músicas. Anunciou a terceira dizendo que alguns de nós talvez já tivéssemos visto o vídeo e que por isso saberíamos que começava com baixo. Conhecessem
“Blood Culture” ou não, o público bateu palmas ao ritmo do baixo de
Atlas.
Depois de
“Shades Of Black”,
Skov perguntou
“are we boring you, friends? Does Portugal like thrash metal?” A maneira como os portugueses berraram e reagiram à
cover de
SLAYER “Raining Blood” tirou-lhe qualquer dúvida (se é que realmente ainda as tinha).
Por esta altura eu estava mais para trás e não conseguia ver o palco, mas dado que se começou a ouvir
“we want more!”, presumo que os rapazes tivessem saído de cena. Mas então ouvi novamente a voz de
Skov a perguntar se conhecíamos a música que tinham acabado de tocar,
“It was Metallica, right?”. Uns ainda berraram que não, mas a maior parte riu-se.
“Oh, of course. It was Megadeth”. Tal como disse, muito bem dispostos.
O último tema foi então
“Lost In Violence”, tema-título do álbum de estreia.
Dado o número de pessoas que vi com
t-shirts de
ESSENCE, não fui a única a achar que esta banda tem futuro.
http://www.essencemetal.com Os
ANATHEMA eram sem dúvida uma das bandas mais aguardadas daquele dia – não importa quantas vezes cá toquem, o público português acolhe-os sempre de coração.
Com o “nosso”
Daniel Cardoso nas teclas,
“Thin Air” deu início ao repertório mais envolvente do festival.
Vincent Cavanaugh cumprimentou o público em português: “olá pessoal, tudo bem?”. Mas a meio de
“Summernight Horizon” deixou de estar tudo bem, pois um problema técnico no PA deitou a luz abaixo. O público não achou muita piada, mas a banda riu-se. O problema resolveu-se rapidamente (ou remediou-se, pois voltou a acontecer umas duas vezes mais, mas sem interromper a actuação – ou pelo menos sem eu ter dado conta) e prosseguiram com
“Dreaming Light”. Acompanhando as letras ou a bater palmas, a participação do público foi constante.
Vincent até gritou “c*******!”, no final de
“A Simple Mistake”, se não estou em erro, tal era o seu contentamento perante semelhante recepção.
“Do you wanna cantar comigo?”, perguntou o vocalista antes de iniciar
“Flying”. Conseguem imaginar a resposta.
Com uma compilação,
“Falling Deeper”, prevista para Setembro,
Vincent anunciou que na próxima
tour certamente tocariam no Porto e em Lisboa. Noutro momento do concerto terá também dito que Portugal era
“a beautiful country, full with beautiful people”.
“Fragile Dreams” encerrou o concerto, e quando os ANATHEMA estavam já a despedir-se, o PA voltou estourar. O que não impediu a banda de Liverpool de continuar a acenar e a agradecer.
http://www.anathema.ws/Não me recordo a última vez que os suecos
TIAMAT actuaram em Portugal, mas já lá iam uns anos. Pessoalmente, era a banda que mais queria ver e não me desapontaram.
O concerto atrasou cerca de 20 minutos. Depois dos problemas com o PA durante a actuação dos
ANATHEMA, começávamos a recear o pior. Mas
“Fireflower” lá começou, com
Johan Edlund a pedir desculpa no final. Prosseguiram com
“Children Of The Underworld”, que dedicaram aos
ANATHEMA e aos
OPETH (a propósito, o teclista dos
OPETH,
Joakim Svalberg, era quem estava atrás das teclas dos
TIAMAT naquela noite).
Com excepção dos dois primeiríssimos álbuns,
“Sumerian Cry” (1990) e
“The Astral Sleep” (1991), visitaram toda a sua discografia.
“Whatever That Hurts”,
“Brighter Than The Sun” e
“Cold Seed” foram alguns dos momentos mais altos.
Os temas mais antigos ficaram para o final:
“The Sleeping Beauty” e
“Gaia”, que alguém na multidão já tinha gritado logo no início do concerto. Com um sincero
“God bless you. Thank you so much, enjoy Opeth!”,
Edlund & Co. deixaram o palco.
http://www.churchoftiamat.com/Quando os primeiros acordes de
“The Grand Conjuration” soaram, um coro de
“ooooooohhhhhhhhhhhhhh” nos mesmos tons fez-se ouvir em todos os cantos do recinto.
Mikael Åkerfeldt estava muito divertido, fazendo-nos gritar repetidamente por Vagos, pelos
OPETH, por cada elemento da banda... Assim como também nos contou que tinha estado na praia com a sua filha
Melinda (que estava perdida de sono, abraçada a um urso de peluche, a um canto do palco), ou de como tinha sido grande fã de
David Vincent dos
MORBID ANGEL quando era mais novo. Aliás iriam tocar uma música com influências de
MORBID ANGEL, mas não naquela altura. Agora era tempo para
“In My Time Of Need”. No final desta, lá tornou ele a falar na banda americana, pedindo ao público para fazer-lhe um favor e berrar por
David Vincent, apresentando então a tal música “influenciada”,
“Master’s Apprentices”.
Por esta altura vim embora, pelo que não posso dizer que outras piadas
Åkerfeldt terá feito, mas através de testemunhos de grandes fãs da banda, posso afirmar que este foi dos melhores, senão o melhor concerto dos
OPETH em Portugal, e que terminou com
“Deliverance”.http://www.opeth.com/